sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Jamais

Que o executivo socialista tem bons ministros é uma opinião. Que tem maus ministros é um facto. Mas Mário Lino vai mais além, inaugura uma nova escala de incapacidade e transpõe todas as fronteiras no que concerne a incompetência ministerial. O dossier do novo aeroporto foi de tal modo mal gerido que me leva a questionar se Mário Lino terá, efectivamente, qualquer tipo de capacidade para o cargo, ou se será, pura e simplesmente, o tachista-mor, o favorzinho político levado a um extremo nunca antes atingido.

Foi sendo tornado claro, com particular incidência nos últimos meses, que a solução Ota não só era má, como era péssima. Mário Lino não concordou. Insistiu, persistiu e acentuou um erro claro, clamoroso, e cujas consequências para o país seriam nada menos do que trágicas. A célebre conferência de "Alchochete jamais (leia-se em francês)" roçou a imbecilidade, revelou total ausência de estudos, de preparação, de conhecimento. Mais ainda, revelou profunda falta de respeito pela região e evidenciou o provincialismo centralista de Lisboa no mais elevado grau. Tivesse ou não conhecimento de causa (e torna-se agora por demais evidente que não tinha), Mário Lino nunca precisaria de dizer o que disse e, sobretudo, naquele tom. Uma inexplicável procura por protagonismo? Naturalmente que foi arrasado pela opinião pública, por comentadores, analistas, técnicos, e toda a gente que tem um mínimo de senso.

E foi numa humilhante conferência de imprensa que Mário Lino anunciou: afinal Alcochete era a melhor opção. De solução impensável, recheada de impossibilidades técnicas, logísticas e ambientais, passou a ser a opção ideal, perfeita, o único caminho possível. Enquanto metade do país estava contra a Ota, o executivo manteve-se firme. Quando todo o país se levantou contra a Ota, voltou atrás. E isto é o pior de tudo. É que Alcochete não é uma opção técnica, é política. E tal nem foi disfarçado. Depois de anos de insistência da Ota, a decisão da mudança foi tomada apenas um dia depois de ser conhecido o estudo (e apenas mais um) definitivo. Quem está minimamente atento percebe o quão absurdo isto é. Aquela que é a maior obra pública de sempre do Estado Português em solo Português (porque a maior obra pública de sempre, ironia das ironias, nem sequer é em Portugal - é a barragem de Cahora-Bassa, cedida ao governo de Moçambique por mil reis e um bolo de arroz) acaba por ser analisada com uma leviandade absurda, surreal, inaceitável, e a decisão final acaba por ser tomada por mero populismo, por mais um punhado de votos nas próximas legislativas. Felizmente que Alcochete parece ser de facto a melhor opção. Porque se o país quisesse o novo aeroporto em Vila Nova de Mil Fontes, era lá que este seria construído.

Um observador desatento, após ler este cenário, pensaria, por certo, que Mário Lino estaria por esta hora demitido, e a sua carreira política seria hoje uma piada de mau gosto que facilmente cairia no esquecimento. Puro engano. Como se da coisa mais natural do Mundo se tratasse, José Sócrates deu uma palmadinha nas costas ao seu inenarrável ministro e ainda o elogiou pela opção tomada. O próprio José Sócrates e o seu executivo parecem ter saído da situação em bom plano segundo alguns comentadores e analistas: Sócrates é humano, Sócrates hesita, Sócrates ouve o que lhe têm para dizer, Sócrates é capaz de voltar atrás, Sócrates é capaz de tomar a melhor decisão. Haja paciência.

Mário Lino prossegue assim na sua cadeira, desprovido de qualquer credibilidade, com a palavra "incompetente" tatuada na testa, mas, ainda assim, com o apoio de Sócrates. É este o homem que está encarregado de gerir uma das maiores obras públicas de sempre. Estou muito tranquilo, sem dúvida. Seria absurdo supor que Mário Lino erraria num dossier tão importante. Jamais.

1 comentário:

Anónimo disse...

Os verdadeiros ditadores precisam de estar rodeados de gente incompetente, para aumentarem o seu poder/influência!!!